A capacidade de esquecer, de fazer dormir. Fazer o
sentimento dormir. Congelar. Uma ligação a menos, uma lembrança a menos, uma
palavra a menos. O que havia acabou? Se acabou me avise, por favor! Odeio não
ser avisada, odeio não ser convidada, odeio atrasos. Atrasos de informações são
terríveis para mim. Principalmente, se a informação for: “A sua cota de existência
na minha vida chegou ao fim. Dê adeus.”
Os itinerários que percorri ao longo da vida
trouxeram-me pequenos ódios e se os tivesse deixado acumular, talvez hoje,
fosse a dona carrancuda calculadamente fria. Mas tento apenas aprender com
eles, não guardá-los. Há algo maior que filtra os sentimentos, escolhe,
seleciona. Joga fora os ódios, mas não os esquece. Se esquecesse eles poderiam
chegar a atormetar novamente.
Na minha mania de integração, de conjunto, de nós, eu
perguntaria: “Vamos seguir?” Mas não. Essa já não é a pergunta cabível aqui.
Agora pergunto: “Vou?” E sim, eu vou. Sozinha. Contanto os inteiros a mim mesma,
a uma, a sós, aqui, ali. Em algum lugar. Mas só. Foram deixando-me,
quebrando-me. E fui juntando os pedaços, colando-os com esperança e gerando
maturidade. Minhas junções talvez não sejam as mais belas; mas elas são ideais
para mim e isso basta. Essa sou eu construída por mim mesma, dividindo-me com
papéis, com letras. Minhas vidas, meus encantos, deixo guardar. Em mim. Pelo
que me cabe hoje, ninguém quis saber o que vi. Mas eu vi, e se sozinha vou,
só isso importa.
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