quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Desfoque

E se o amor surgisse tão lentamente quanto o tempo que passa... Surgisse assim e ficasse. Criasse raízes profundas, raízes de paz, feitas de amor. Feitas de querer. Mas ele chega, teima, insisti, e vai. E assim, o frio que faz aqui parece ser a única real companhia num mundo vazio. As conversas soam secas ao fundo, entretanto aquilo que é realmente importante não encontra-se aqui. Pensei que o amor logo viria, chegaria fazendo festa e não partiria mais. Porém o amor veio, bateu a porta, fez carnaval e se foi. As tardes quentes passaram tão rapidamente que sua imagem se faz desfocada em minha memória. Veio e partiu. Eu aprenderei a lidar novamente. Sempre aprendo. Ao longo, adquiri este dom. Esses ditos amores já se tornaram formas de aprendizagem, o que é uma pena. Eles deveriam ser, apenas, as mais lindas e puras formas de amor.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

(dis)junção

A capacidade de esquecer, de fazer dormir. Fazer o sentimento dormir. Congelar. Uma ligação a menos, uma lembrança a menos, uma palavra a menos. O que havia acabou? Se acabou me avise, por favor! Odeio não ser avisada, odeio não ser convidada, odeio atrasos. Atrasos de informações são terríveis para mim. Principalmente, se a informação for: “A sua cota de existência na minha vida chegou ao fim. Dê adeus.”
Os itinerários que percorri ao longo da vida trouxeram-me pequenos ódios e se os tivesse deixado acumular, talvez hoje, fosse a dona carrancuda calculadamente fria. Mas tento apenas aprender com eles, não guardá-los. Há algo maior que filtra os sentimentos, escolhe, seleciona. Joga fora os ódios, mas não os esquece. Se esquecesse eles poderiam chegar a atormetar novamente.
Na minha mania de integração, de conjunto, de nós, eu perguntaria: “Vamos seguir?” Mas não. Essa já não é a pergunta cabível aqui. Agora pergunto: “Vou?” E sim, eu vou. Sozinha. Contanto os inteiros a mim mesma, a uma, a sós, aqui, ali. Em algum lugar. Mas só. Foram deixando-me, quebrando-me. E fui juntando os pedaços, colando-os com esperança e gerando maturidade. Minhas junções talvez não sejam as mais belas; mas elas são ideais para mim e isso basta. Essa sou eu construída por mim mesma, dividindo-me com papéis, com letras. Minhas vidas, meus encantos, deixo guardar. Em mim. Pelo que me cabe hoje, ninguém quis saber o que vi. Mas eu vi, e se sozinha vou, só isso importa.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ouvidos mortos

Você é sozinha no mundo. Aprenda. Os outros? Ah... Os outros vão deixar escapar teus segredos em meio a conversas fúteis, não respeitarão os teus momentos. Então, viva em silêncio e rejeite, principalmente, os ouvidos que não confiam nos teus. Tenha ouvidos mortos, e boca também. Cale-se! Não conte a ninguém. Mantenha tudo no segredo do teu coração e apenas ele vai poder gritar algo para você. E se ele gritar fique feliz. Só você vai ouvir. Silencie a vida e só fale opiniões convictas. Preste atenção e não comente. Deixe passar. Guarde as confusões e alegrias do seu barulho apenas para você (e seu quarto, se desejar). E os abraços? Para estes existe um travesseiro macio. Para tudo dá-se um jeito, aprendi. Só não há jeito para aquilo que não depende de você.