terça-feira, 19 de junho de 2012

Aos capitães.

"Ela de longe sorria para Pedro Bala. Não havia nenhuma malícia no seu sorriso. Mas seu olhar era diferente do olhar de irmã que lançava aos outros. Era um doce olhar de noiva, de noiva ingênua e tímida. Talvez mesmo não soubessem que era amor. Apesar de não ser noite de lua, havia um romântico romance no casarão colonial. Ela sorria e baixava os olhos, por vezes piscava com um olho porque pensava que isto era namorar. E seu coração batia rápido quando o olhava. Não sabia que isso era amor. Por fim a lua veio, estendeu sua luz amarela no trapiche. Pedro Bala se deitou na areia e mesmo de olhos fechado via Dora. Sentiu quando ela chegou e deitou a seu lado (...) Mesmo não sabendo que era amor, sentiam que era bom."
Capitães de Areia, Jorge Amado - Página 182.


Guardei esse trecho enquanto lia o livro, durante meus intinerários, apenas para lê-lo novamente ao final e analisar quais sentimentos estariam presentes em meu coração. Eu senti pena de Dona Ester e me perguntei como ela deve ter se sentido ao ver que Sem-Pernas, o seu novo Augusto, a deixara. Eu senti orgulho de Dora por todas as suas ações e o seu amor por Pedro. Lembrei que, uma vez na vida, me senti como o Professor. Mas eu superei, eu vivi. Senti um pouco de inveja de Pirulito e sua total entrega e amor Àquele que nunca os deixou, mesmo em meio a caos do areal. Senti-me cheia de raiva, como um dia, Volta Seca se sentiu. Mas também, senti alegria ao ver o Gato gingar pelas ruas da Bahia com seu jeito malandro e me veio um sorriso no rosto ao lembrar do quanto aqueles meninos sabiam sorrir em meio ao sofrimento.
E me apaixonei. Paixões despertam-me tão facilmente que me sinto, muitas vezes, vulnerável a este sentimento que consome os corações humanos. Eu me apaixonei pelos meninos do trapiche abandonado, pelas ruas da Bahia e pela liberdade que só aqueles meninos souberam viver. Pedro Bala disse, tantas vezes, que a liberdade é como o sol, o bem maior do mundo. E saiba, Pedro, hoje eu estou acreditando nisso. Obrigada, capitães!